São 5h da manhã de algum dia frio no final de maio. Ry Craike alonga suas pernas sob o leme do capitão em um barco sem nome. Ele se levanta e abre a porta do convés para olhar o mar, mas não vê nada além de um oceano cor-de-rosa refletindo a sua frente o sol que nasce no horizonte.
Eles estão seguindo para o norte já faz quatro dias nesta remota e vasta paisagem cheia de nada, e isso é só o começo. Isto é o The Search.
“Seguir para o norte foi uma ideia do capitão”, disse Dillon Perillo, que compartilhou o barco juntamente com Ry, Jacob Willcox e o resto da equipe de produção. “O plano original era ir para uma cadeia de ilhas bem perto de onde havíamos embarcado, mas quando estávamos prontos para começar a viagem, ouvimos sussurros de que outras pessoas tinham ido na mesma direção. Então o capitão, que também é o dono do barco, propôs que fizéssemos algo diferente.
“Eu não sabia nada sobre aquela área – nenhum de nós sabia. Estudamos as cartas náuticas da região, fizemos algumas pesquisas e no último minuto, mudamos nosso plano. Dessa forma seguimos em frente navegamos por mais de 1280 km rumo ao norte”.
A viagem levou cerca de uma semana, com a terra sumindo e reaparecendo do nosso campo de visão no horizonte distante.
Todas as manhãs, quando os garotos acordavam, Ry já estava sentado na popa, jogando uma linha chumbada com algum tipo de isca estranha pendurada no anzol. Por causa destes esforços, o menu diário do café da manhã era composto de iguarias como lagostins frescos, peixe de fundo, peixes pelágicos e outras criaturas esquisitas do mar. “A comida era incrível”, disse Jacob, que cresceu comendo peixe fresco em sua cidade à beira-mar. “É sério, nós comíamos como reis. A vida marinha onde estávamos era muito rica, algo que eu nunca tinha visto antes – era quase que totalmente intocada. Ry é um pescador de lagostim profissional e ele foi nos dando umas dicas. No final da viagem todos nos sentíamos especialistas no assunto.
Foi quando surgiu, ainda longe, a ilha que eles viajaram tanto para encontrar. Já era quase final da tarde e a pouca luz que ainda havia já estava desaparecendo, então a equipe decidiu ancorar logo ali depois da curva e esperar a noite passar. Jacob se lembra da emoção que a escuridão oferecia, da expectativa após uma viagem tão longa com ainda resultados desconhecidos. “Pela manhã, todos acordaram muito animados. Não sabíamos muito bem o que esperar. Só tínhamos ouvido falar na onda para a qual estávamos olhando e ela nos pareceu muito boa a certa distância – uma esquerda longa e tubular. Poderíamos simplesmente ter surfado nos picos mais conhecidos da região. Os picos para os quais outros surfistas já foram um milhão de vezes, mas nós queríamos mais – então decidimos ver o que havia depois da curva, nós arriscamos – e nós encontramos!.
“Assim que entramos no bote e nos aproximamos vimos a onda quebrando. Aquela visão foi totalmente surreal! Vimos linhas de esquerdas marchando desde muito longe até chegarem lisas e perfeitas na bancada. Todos estavam muito empolgados, mas também um tanto quanto inseguros – nós dizíamos “Parece muito bom, mas será que está bom mesmo”? A sensação era estranha porque tudo era desconhecido – mas quando chegamos lá e pegamos algumas de nossas primeiras ondas, nós percebemos o que tínhamos encontrado. Foi uma enorme sensação de alívio. Tudo valeu a pena e se precisássemos repetiríamos tudo de novo”.
O barco passou os próximos cinco dias ancorado em torno daquele local e sem falhar, os garotos surfaram o dia inteiro até a luz acabar. A esquerda era impulsionada por uma forte ondulação que vinha do Sul até quebrar perfeitamente na bancada onde ainda era acariciada por um fraco vento terral que deixava a textura das ondas ainda mais hipnotizantes. Durante aqueles cinco dias essa onda nos ofereceu intermináveis tubos azuis de seis pés sem nenhuma outra alma viva por perto. Ry, que já mora em uma área extremamente remota do planeta, ficou maravilhado.
“Eu moro num lugar muito distante, mas essa expedição foi incrível! Poucas vezes surfei em condições de ondulação e vento tão perfeitas. O fato de que tínhamos as informações certas para fazer a escolha que fizemos, ao invés de irmos para os picos mais conhecidos e que provavelmente também estariam bombando com outras cinquenta pessoas para compartilhar a melhor da série, fez com que essa, certamente, tenha sido uma das melhores viagens da minha vida… Isso é o The Search. Descobrir novas ondas e explorar mais. Eu só tinha ouvido sussurros sobre este lugar. Acho que ninguém nunca viu isso aqui e sei que ninguém nunca surfou por aqui antes.
“No melhor dia da viagem surfamos ondas de seis pés, vazias e tubulares. Jacob pegou um tubo para esquerda que parecia que nunca iria acabar. Todos estavam surfando muito bem a viagem inteira, mas aquele dia foi inesquecível. Sério mesmo, não há nada melhor do que compartilhar tubos largos, perfeitos e claros com os seus amigos. Eu vivo por causa disso!”.
Na manhã do quinto dia de viagem a equipe acordou e conferiu as condições, na dúvida se valia a pena remar. A ondulação estava quase no auge do tamanho e parecia grande demais para nós. Além disso, após quase uma semana surfando a mesma onda, você tem direito de ficar mais exigente. Quando decidiram que dava para surfar, Dillon, Jacob e Ry pegaram as pranchas, entraram no bote e partiram em direção a bancada. Quando eles estavam prestes a pular na água, um dos amigos do marinheiro, que tinha remado um pouco mais cedo, soltou um grito.
“Ele tinha acabado de ser derrubado da sua prancha por um tubarão-tigre”, lembra Jacob. “Ele estava muito calmo porque é um bom mergulhador e ama a vida marinha, mas quando o tubarão o atingiu, ele ficou chocado. Quando soubemos o que estava acontecendo, o tubarão já tinha ido embora”.
Ele estava tentando chamar seu pai quando viu esta coisa vindo do fundo – a coisa era mesmo um enorme tubarão-tigre. E ele estava nadando em círculos ao redor do nosso barco – Dillon
A equipe decidiu por unanimidade que seria melhor suspender aquela sessão, mas em vez de só ficar esperando, eles ligaram o motor e foram mais para o norte em direção a outra bancada. “Surfamos um pouquinho, mas não foi tão bom, então após uma ou duas horas nós voltamos para aquela esquerda onde estava a nossa base, imaginando que o tubarão já estivesse bem longe”, disse Dillon. “No momento que nós chegamos, o lugar estava absolutamente bombando. Mas quando estávamos prestes a entrar no bote, Jacob começa a gritar da proa do barco. Ele estava tentando chamar seu pai quando viu esta coisa vindo do fundo – a coisa era mesmo um enorme tubarão-tigre. E ele estava nadando em círculos ao redor do nosso barco. Ele bateu com a calda em nós e eu pensei, ‘De jeito nenhum! Não vou surfar esta onda nunca mais’. Não há a menor chance de isto ser apenas uma coincidência.
“Onde estávamos havia muita vida marinha, e Ry quase remou naquela tarde porque ele disse que haviam tantos peixes no mar que eles não iriam atacar, e que nós não estávamos na lista. Mas a minha teoria é bem diferente – mais peixes no mar significa mais tubarões para comer os peixes, o que por sua vez, torna a coisa toda bem mais perigosa. Essa é a minha lógica, e eu decidi não surfar. É engraçado pensar que ficamos surfando ali até o anoitecer por quase uma semana”.
Jacob, por outro lado, se lembra de ter visto aquele tubarão-tigre como uma experiência, uma oportunidade rara. “Foi muito louco ter visto aquilo, na segurança do nosso barco. Quero dizer, ele provavelmente esteve lá o tempo todo, e acabou ficando um pouquinho mais interessado em nós.
“Acho que o Dylan acabou viajando nas ideias um pouco mais porque ele não está acostumado a ficar tão isolado. Lembro-me dele descrevendo o lugar como alienígena, e como ele ficou impressionado com o vazio que encontrávamos em todos os lugares que íamos – Era muito louco. A maioria dos caras da Austrália como eu está acostumado com isso – para nós, quase pareceu normal, mas para o badalado local de Malibu, as coisas não eram iguais”.
E após duas semanas flutuando no mar, a viagem de repente terminou. Dillon, Jacob, Ry e a equipe apontaram o barco sem nome para o outro lado e começaram a viagem de volta ao local de onde eles vieram. Eles mutuamente concordaram que, apesar de não terem visto nenhuma outra alma viva durante 14 dias, apesar de estarem confinados em beliches e a dormir no convés ou debaixo do leme, apesar de não comerem nada além de peixes, apesar dos tubarões, do enjoo e dos momentos de agitação do isolamento, a viagem foi inesquecível.
Surfamos em um lugar onde ninguém havia surfado antes, ou pelo menos nunca documentado. A Busca valeu a pena”. – Jacob
“Foi tudo muito rápido”, disse Jacob. “Não foi como a maioria das viagens de barco onde todos se afastam uns dos outros no final. Tínhamos que ver esta nova parte do mundo que ninguém ainda tinha visto. Nós fizemos isso. Encontramos a onda que fomos buscar e a sensação foi muito boa. Surfamos em um lugar onde ninguém havia surfado antes, ou pelo menos nunca documentado. A Busca valeu a pena”.
Mas talvez o Ry, o mais silencioso do grupo, foi quem melhor resumiu a experiência. “Cara”, ele disse, lentamente, com a pronunciação lenta do Noroeste Australiano arrastando suas palavras. “Eu vivo pelo The Search. É o que tenho em minha essência desde pequeno. Acho que nunca vou desistir da sensação de descobrir o que tem depois da curva”.