“Não é venenosa, certo?”
Era surpreendentemente pesada, Louie pensou, enquanto a cobra envolvia seu corpo espesso e lento em torno de seu pescoço, cobrindo seus braços e se movendo por suas costas.
O homem olhou para Louie de sua posição no chão, pernas cruzadas em um tapete trançado, uma cobra a seus pés. Ele o examinou, observando as mechas loiras cacheadas, o rosto levemente bronzeado, a postura aparentemente relaxada. Um sorriso maroto se espalhava em seu rosto. “Apenas um pouco de veneno. Somente falência dos rins”.
Duas semanas atrás, Luke Hynd estava passando o tempo em sua varanda na Gold Coast literalmente de braços cruzados. Seus pés repousavam na grade enferrujada pelo sal, seus olhos fechados. Os ventos do norte estavam soprando, as ondas estavam avançando além dos picos, as águas-vivas estavam invadindo e ir surfar era a coisa mais distante para aquele momento.
“Estava flat e chato e eu estava enlouquecendo” disse Louie. Sua voz se agitou apenas pela lembrança. “Mas então Darcy (Ward) apareceu um dia e comecei a lhe contar histórias de uma trip que havia feito há alguns anos – Não tenho certeza de como surgiu – mas estava dizendo como peguei divertidos fundos de areia e fundos de pedra, incontáveis esquerdas, bons ventos e como era um lugar lindo.”
E então os dois perceberam que, droga, eles não estavam fazendo nada demais.
Então, três dias depois Louie arrastou seu bom amigo e o parceiro da equipe Rip Curl, Kipp Caddy, levou o fotógrafo Ted Grambeau, e subiram em um avião.
“Eu tinha acabado de retornar de uma longa viagem pela Indonésia, ” disse Kipp, quando foi perguntado como se envolveu. “Estava em casa somente por há alguns dias quando recebi uma ligação de Louie. Ele me disse que poderia ter uma viagem de Busca para mim, e que tinha encontrado um pequeno trecho legal de costa que tinha ondas divertidas. Antes que tivesse a chance de pensar sobre isso, estava a caminho de um novo arquipélago.”
A tripulação chegou por volta das 4 horas da manhã e dirigiram para o sul ao longo da costa enquanto o sol começava a nascer. Esta é uma área única, em termos de surf – é um daqueles picos em que você nunca sabe o que vai encontrar.
Há tantos recantos e cantos diferentes que não importa o vento ou as ondas ou as tempestades, há sempre algum lugar para remar e mergulhar. Isso, e lá sem nenhum crowd.
“Quando vim aqui pela primeira vez”, lembra-se Louie, “não havia ninguém. Ninguém mesmo. E agora, está ficando parecido a um local turístico – mas não é um ponto turístico de surf. Há uma grande diferença entre essas duas coisas. Quero dizer, há uns poucos surfistas aqui e ali, mas por algum motivo, eles são todos Russos e todos são iniciantes – eles não chegam perto de nenhuma onda que você ou eu surfaríamos.”
Então, a cada dia os garotos deviam acordar, pular na caçamba das picapes de seus guias e dirigir. A simples estrada costeira, curva, dobra e contorna em linha com o oceano, nunca deixando o azul se perder de vista. A cada curva, os garotos podem ver outra onda, outro recife, sem ter que girar suas cabeças. “Por muitas vezes, você não precisava nem estacionar. Você apenas dirige, vê, dirige, vê, e eventualmente, decide sobre algum lugar que parece ser a melhor opção. Essa foi realmente a pior parte, escolher”.
A rotina? Escolha. Surfar. Sair e encontrar abrigo. Aguardar que a tempestade da tarde se dissipe. Dirigir. Ver. Surfar novamente. Voltar à cidade. Cochilar. Entrar na selva.
Essa última parte – a selva – que foi a verdadeira atração dessa viagem.
Veja, Kipp Caddy é um maníaco caçador de ondas em lajes. Esse é o truque dele. E como você pode dizer, os garotos não estavam exatamente buscando ondas de 15 pés. Então, o que ele estava fazendo lá?
“Meu negócio é surfar lajes e ondas críticas, disse Kipp, “mas no fim do dia, adoro viajar e adoro poder surfar, enquanto visito novos locais. Honestamente? Saber que as ondas não estariam enormes, tornou toda a viagem muito mais relaxante. Pode ficar realmente intenso no processo que leva a uma grande ondulação – todos estão no limite, pré-amplificando sobre quais podem ser as condições, quais pranchas usar, etc, etc. Mas essa viagem não teve nada disso, e saber que as ondas não iam ser divertidas, me deixou ir no meu ritmo – realmente desfrutei do local e das ondas sem todas essas vibrações intensas.”
O lugar. O local é diferente de tudo. E como mencionei antes, a selva. “Depois de surfarmos, íamos ver algumas das partes mais rurais do país. Onde toda a natureza está.” explica Louie…
“Assim que se passa 20 minutos indo para o interior, você esta dirigindo passando por elefantes e macacos e cobras. Você olha pela janela e vê pavões voando. É insano o quanto a natureza está presente. Está intocada, e isso é tão raro de se ver neste mundo, eu acho. É quase igual quando você deixa a costa, você vai diretamente para dentro do Livro da Selva”.
Nenhuma história melhor ilustrará esse Livro da Selva do que a história do Kipp. Ele contou novamente um dia na viagem quando a equipe decidiu sair em um tour no parque nacional, quando um macaco roubou uma câmera de $2500 do Ted. “Era apenas um rapazinho”, disse Kipp, bem animado em relação a sua atitude normalmente apática, “ mas foi tão agressivo que ele não devolvia diretamente a câmera! Nós gastamos quase uma hora brincando de gato e rato com ele, e quando finalmente conseguimos tê-la de volta, ele correu para a bolsa da câmera do Ted e começou a saqueá-la. Ted correu enlouquecido, mas o macaco tinha um gancho de esquerda de ótima qualidade. Ele quase limpou completamente o Ted!”
São momentos como esse…essas experiências aleatórias, essas memórias singulares que formaram essa viagem – e francamente, isso está faltando em muitas viagens de surf atualmente.
“É uma sensação realmente diferente da maioria das viagens” disse Louie “ quando você vai a um lugar único que normalmente você não consideraria para uma viagem de surf. É ir a um lugar para experimentar outra cultura e um lugar selvagem, e além disso você curte ondas divertidas. É bem divertido, surfar em uma área singular como essa. Havia crianças jogando críquete na praia, e estavam todas fazendo espuma porque, na verdade, não tinham visto muito surf”.
Falando de críquete, eles são fanáticos nesta parte do mundo. E apesar do fato que nem Kipp nem Louie serem ávidos por críquete, para dizer o mínimo, ambos acharam divertido o entusiasmo das crianças. “Eles honestamente não davam a mínima para o surf” diz Louie, rindo. “Mas eles ainda aparecem e conversam com você. A primeira pergunta seria sobre sua prancha, e depois eles vão direto para ‘Quem é o seu favorito no críquete?’
“Eu não sou nem um pouco fã de críquete, mas sei que a Austrália estava tendo algo chocante, então eu disse ‘Não a Austrália, estamos jogando uma porcaria!’ E eles adoraram. Ficaram seus melhores amigos quase instantaneamente. ”
Uma parte enorme de toda viagem que você faz está nas pessoas que você encontra. Suas interações e experiências com os habitantes locais moldam o jeito que você fala, e pensa sobre o lugar, na sua volta para casa.
“Eu não sei o que há com esse lugar,” diz Louie, “mas de todas as minhas viagens, encontrei aqui algumas das pessoais mais legais que já conheci. Algumas pessoas dizem isso após uma viagem sem o verdadeiro significado, mas essas pessoas são de fato verdadeiramente altruístas. Eu dei a alguém uma gorjeta e ele quase tentou recusá-la. Disse, ‘Não, nós só queremos ajudá-lo!’ Isso não acontece, em nenhum lugar. E esse país passou maus bocados, então é interessante para mim que as pessoas tenham um coração tão bom e sejam generosas. Não tenho certeza o que é, mas é revigorante.
“Para mim, há duas partes em uma viagem de Busca. Uma metade é ir e encontrar ondas perfeitas sem ninguém ou nenhum crowd. E depois, a outra metade, é ir a algum lugar que você não esperava – um lugar realmente legal – conhecer novas pessoas e, além disso, encontrar ondas. Descobrir o que realmente há nesse novo local, nesse novo país.
“E isso é o que o mundo é – é sobre descobrir o mundo, ser capaz de experimentar diferentes culturas e diferentes lugares, e ainda poder surfar – e talvez você ainda mostre a alguém o que é surfar. Não é apenas encontrar o tubo perfeito.”
Mesmo para alguém como Kipp cuja única finalidade na vida É encontrar esse tubo perfeito, ele também concordou. “Do que se trata a Busca? Bem, essa foi minha primeira vez realmente Buscando, e após essa experiência, eu diria que, para mim, é sobre sair de sua zona de conforto e experimentar novos lugares, pessoas e ondas. É sobre visitar algum lugar completamente novo. Sem expectativas, apenas ir e ver o que encontra. Isso me inspirou a viajar.”
Speaking of comfort zones…
“Falência dos rins!? Tire essa coisa de mim!”
“OK, mas por favor, não faça movimentos bruscos.”
“Oh. Merda.”