Fotos de Alex Lesbats. Texto de Arnaud Le Tower
Há um velho ditado entre os surfistas Europeus que diz: Quando a plantação de laranjas começa a congelar no interior da França, os tubos estão rolando no outro lado do Oceano Atlântico!”
Nas profundezas do Sul da França, uma parte da equipe de surfistas da Rip Curl Europa estava no quartel general da marca conferindo as condições de swell ao redor do mundo. Uma grande tempestade se formava perto da costa leste dos Estados Unidos e chamou a atenção dos atletas. Cansados das ondas perfeitas e peitos de fora nas praias dos arredores de Hossegor, eles decidiram arriscar e se jogar rumo ao Oeste.
Sempre de olho nas previsões das ondulações durante essa época do ano, ficou claro para eles que aquela tempestade que se formava a quilômetros de distância era especial. A energia desse swell seria suficiente para gerar ondas em um pico que eles já tinham ouvido falar e que poderia oferecer ondas de qualidade internacional com essas condições.
Esse pico era especial pois só funcionaria com um swell de grande intensidade e direção específica. Uma direita de sonho que quebra sobre uma rasa bancada de areia perto da praia e com água cristalina. Um local que qualquer surfista do planeta abandonaria o que estivesse fazendo para ir até lá se soubesse como chegar ao destino final.
Os Europeus descobriram esse pico muitos anos atrás. Eles guardam esse segredo a sete chaves. Água quente, fundo de areia e comida deliciosa a base de frango Colombo e Fricassê de peixe… Se você descobrir onde fica, não conte para ninguém!
Após uma xícara (ou duas) de café e poucos minutos de conversa ao lado do Searcher Vicent Duvignac eles decidiram se jogar rumo ao Oeste no dia seguinte.
Vicent é um surfista de 28 anos nascido e criado na região de Landes e um dos locais mais respeitados do pico de La Gravière. Após juntar-se a equipe Rip Curl no início de janeiro, ele decidiu focar sua carreira na busca por ondas inexploradas ao redor do planeta.
Vicent pertence a última geração de surfistas que descobriu o The Search através dos antigos filmes da Rip Curl. Ele também já curtiu muitas sessões de surf ao lado da lenda viva Tom Curren, que morou durante muito tempo na França e surfou no mesmo pico de Vicent durante anos.
O jovem garoto Kyllian Guerin de apenas treze anos e o surfista Português Miguel Blanco foram convidados para conferir de perto o que essa épica tempestade tinha para oferecer.
Apesar da pouca idade Kyllian já faz parte da equipe Rip Curl a alguns anos. Ele organiza sua vida diariamente de acordo com as condições de surf e estuda via internet, o que lhe permite estar sempre no lugar certo, na hora certa, quando as ondas aparecem. Ele já viajou para diversos picos do mundo e está sempre acompanhando de perto a equipe internacional da Rip Curl durante os eventos do circuito mundial, seja em Bells Beach ou em Pipeline. Ele vive com a família em Hossegor, mas sempre viaja com eles para Costa Rica, um dos locais frequentados a muitos anos pelos pais.
Miguel Blanco é um jovem surfista Português de vinte anos de idade que mora na região de Cassias, Lisboa. Após vencer alguns eventos Pro Júnior na Europa, Miguel está agora em busca da sua classificação para elite do surf mundial disputando etapas importantes do World Qualifying Series. Com seu surf inovador e progressivo, Miguel se destaca quando o “bixo pega” em picos como Supertubos ou Nazaré. Essa será a primeira viagem de Miguel no The Search, já que ele veio a integrar recentemente a equipe profissional da Rip Curl Europa.
Ondas de 4 a 6 pés perfeitas de água azul turquesa quebrando tubulares a poucos metros da praia.
Com o carro recheado de croissants e alguns cafés expressos que eles pegaram no caminho, os rapazes foram para o aeroporto certos de que o melhor ainda estava por vir.
Após um vôo de dez horas, muito trânsito e aproximadamente mais doze horas de barco, o velho “ditado das laranjas” se confirmou quando o grupo avistou, com o dia ainda clareando, ondas de 4 a 6 pés perfeitas de água azul turquesa quebrando tubulares a poucos metros da praia.
A onda é traiçoeira e imprevisível. Apenas os mais bem informados e que aguardam a ondulação certa conseguem surfá-la em condições sublimes como essa.
Os dias seguintes passaram voando enquanto eles passeavam por dentro dos tubos perfeitos durante horas, saindo da água apenas para se alimentar e beber água.
Após dias de sossego e altas ondas a volta de barco foi tensa quando eles tiveram que enfrentar uma forte tempestade com muito vento, levando todos ao pânico durante o retorno para o aeroporto. Três pranchas sumiram no mar durante a travessia e esse foi o preço que eles tiveram que pagar pelas ondas perfeitas que surfaram.
De volta a Hossegor uma semana depois, os rapazes tiveram muitas histórias para contar em volta da panela de fondue após quase terem naufragado no caminho de volta para casa com a cabeça recheada de tubos inesquecíveis.