Após o término da etapa do World Surf League em J-Bay, Matt Wilkinson e Owen Wright seguiram rumo ao extremo sul com suas roupas de borracha em mãos para desbravar locais intocados do continente Africano. Texto escrito por Wilko e Dave Sparkes. Fotos de Corey Wilson e Stu Gibson.
Após o resultado na etapa de J-Bay não ter sido como esperávamos, pensamos… Bom, estamos em uma das partes do mundo que mais recebe boas ondulações, temos as melhores roupas de borracha do mundo para usar, portanto vamos partir em direção ao sul para buscar ondas pouco exploradas.
Estávamos acompanhados de dois bons amigos sul africanos, Paul e Caleb, que conheciam bem a costa ao sul de J-Bay, inlcuindo todo caminho até Cidade do Cabo e os segredos no meio do caminho dessa linda costa litorânea. A previsão das ondas estava bem animadora e essa prometia ser uma bela aventura. Sempre estou disposto a conhecer novos picos, então basicamente fizemos as malas e partimos rumo ao desconhecido.
Saímos de J-Bay rumo ao sul no último dia de competição e logo paramos no meio de uma estrada de terra para encararmos uma das experiências mais incríveis que já realizei, merguhar dentro de uma jaula para ver de perto os grandes tubarões brancos. Foi uma experiência incrível, mas logo que saímos da água para assistirmos a transmissão ao vivo da final do campeonato, ouvimos o locutor falando: “O Mick acabou de ser atacado por um tubarão enorme!”
Logo após o mergulho, durante o retorno de barco para praia, avistamos ondas incríveis. Mas surfar logo depois de termos saído de uma jaula, de ter encarado de perto um grande tubarão branco e ainda chocados de saber do ataque ao nosso amigo Mick, decidimos continuar dirigindo rumo ao sul e esperar um pouco para fazermos nossa primeira sessão de surf.
Cara, será que a gente vai ter coragem de entrar na água novamente nessa viagem?
Naquela noite, dividi o quarto com o Owen. Estávamos assistindo todo o drama que estava acontencendo e as entrevistas emocionadas dos rapazes após o ataque. Equanto mandávamos mensagens de texto para nossos amigos que continuaram em J-Bay, comentamos: “Cara, será que a gente vai ter coragem de entrar na água novamente nessa viagem?” Era surreal. Aliás, ouvimos muito essa frase naquele dia “Foi surreal…” Acho que essa é uma palavra que descreve o sentimento de todos que viram Mick escapando da morte naquele dia.
Fomos conferir as condições na costa oeste e de alguma forma nos preparamos mentalmente para surfarmos em uma praia bem aberta, com ondas grandes e fortes. O local era parecido com South Straddie (Austrália), onde as ondas são tubulares e com pouca gente por perto. A água estava bem fria e as focas estavam por toda parte, nadando e fazendo aquele barulho esquisito. A direção da ondulação estava um pouco estranha, mas conseguimos pegar algumas ondas boas e ninguém foi devorado, o que nos acalmou um pouco.
Um pouco mais adiante surfamos uma onda bem divertida para esquerda. Um pico muito estranho, cheio de algas. Quando a série entrava, as maiores ondas tiravam as algas do caminho, mas nas menores, que quebravam mais perfeitas, as algas estavam por todo lugar e elas prendiam a gente durante a remada. Não tinha como não ficar imaginando o que tinha de baixo daquelas algas. Qualquer coisa que encosta em você dentro d´água na África do Sul te deixa apavorado! Qualquer coisa lisa e escorregadia te faz pensar nos dentes de tubarão.
Surfamos outra onda no mesmo dia que comprovou a diversidade de picos irados naquele lugar. A sessão do final de tarde foi uma loucura, com ventos gelados fazendo a gente bater os dentes dentro d´água. Ondas em torno de oito pés de tamanho e vento terral com tubos quebrando para todos os lados. Esquerda, direitas, ondas perfeitas para os dois lados e ninguém por perto.
Depois do incidente com o Mick, a gente estava muito atento, principalmente nos picos onde as ondas quebravam mais distantes da praia. Em um determinado momento, vimos uma grande coisa escura movimentando a água no outside e pensamos: “Puts, o que é isso?” Então vimos a coisa aparecendo e percebemos que era uma grande baleia. Ficamos gritando de alegria com aquele momento inesquecível!
Nosso fotógrafo, Corey Wilson, esqueceu a caixa estanque dele naquela sessão. Então, Stu Gibson que também é cinegrafista, local da Tasmânia e muito doido, saiu nadando em direção da baleia. “Ele adora fazer isso… Ele nada em volta de icebergs e dá chutes no nariz dos tubarões todo dia no pico onde ele mora. Pelo menos é o que ele diz”…
A comida estava incrível durante toda viagem, o que é uma coisa muito boa quando você está no The Search. Acho que a comida na África do Sul é uma das minhas favoritas no mundo todo. Você sai para jantar em um restaurante onde normalmente a conta seria de $150 em qualquer lugar na Austrália e paga $15. É um dos melhores lugares do mundo para comer bem.
Fomos jantar em um lugar muito legal, literalmente na praia, com grandes fogueiras a céu aberto. Eles cozinharam direto no fogo umas 30 lagostas, muitos peixes e diversos tipos de frutos do mar. Um verdadeiro Braai Sul Africano, mais conhecido como churrasco, onde eu moro.
Durante uma noite fomos para cidade ver o Ben Howard tocar. As ondas supostamente não estariam boas no dia seguinte, mas quando acordamos vimos as melhores condições para o surf de toda a viagem até aquele momento. Mesmo dando algumas cochiladas na praia entre uma sessão e outra, o Owen estava endiabrado dentro d´água. Vi ondas e manobras incríveis dele, além dos melhores tubos que ele pegou durate toda a viagem.
A gente dirigiu bastante durante essa expedição, as estradas vão te levando de praia em praia, parece que as opções de surf não vão terminar nunca. O cenário é incrível, um dos lugares mais bonitos do mundo. As vezes é difícil saber o real tamanho das ondas, pois algumas quebram distantes da praia ou na frente de altos cliffs. É um lugar incrível e vale a pena investir na busca por aqui, já que é um poucos lugares do mundo onde você ainda pode surfar ondas perfeitas, sem ninguém por perto.
E tudo o que vimos deve representar uns 2% de todo potencial desse continente repleto de segredos a serem desvendados